Takeoff ISP 2025: as fundações e o futuro do mercado de provedores
O segundo dia do Takeoff ISP 2025 continuou a todo vapor em sua segunda trilha, mudando o foco das estratégias de vendas para a fundação e o futuro do negócio: a tecnologia, a infraestrutura e as tendências que vão separar os provedores que sobrevivem dos que realmente prosperam.
A mensagem dos especialistas foi clara: ter uma rede sólida é apenas o começo. O verdadeiro sucesso virá para quem entender a mente do cliente, usar dados para ser mais eficiente, investir de forma inteligente e, acima de tudo, adotar uma mentalidade profissional para navegar no novo mercado.
Hemily Lima: a rede do seu provedor tem que ser pensada com o coração do cliente
Abrindo a trilha, Hemily Lima, da Próxima Tecnologia, trouxe uma perspectiva essencial: "O cliente não entende como funciona a internet, mas ele sente a cada falha". Ela destacou que decisões puramente técnicas, sem pensar no impacto emocional no usuário, são a receita para a insatisfação. Para o provedor, uma queda de 10 segundos pode ser só um alerta no sistema; para o cliente, pode ser uma entrevista de emprego perdida ou uma reunião de trabalho desastrosa.
Para evitar essa dor, a solução é a prevenção e a redundância. Hemily provocou os presentes a se perguntarem:
- Você tem um plano de mitigação pronto para um ataque DDoS ou vai esperar acontecer para começar a pesquisar?
- Você monitora a qualidade do seu link para ter provas na hora de cobrar seu fornecedor por uma degradação?
- Você tem equipamentos de backup para sua borda, CGNAT e OLTs? Ou vai parar a cidade inteira se um equipamento queimar?
- Sua rede de fibra tem caminhos alternativos ou um único rompimento causa um apagão geral?
Principal lição: A estabilidade da sua rede é a base da confiança do seu cliente. Construir uma infraestrutura robusta, com backups e planos de contingência, não é um custo, é um investimento direto na reputação e na retenção de clientes.
Gabriel Mocan e Will Soares: o que não é medido, não pode ser melhorado
Em seguida, Gabriel Mocan e Will Soares, da MW Soluções, reforçaram que, para construir uma rede de excelência, é preciso enxergá-la por completo. Eles apresentaram o monitoramento como o sistema nervoso central de um provedor, essencial para garantir o bom funcionamento de sete pilares fundamentais:
- Disponibilidade contínua: Saber em tempo real se a rede está no ar.
- Eficiência: Usar os recursos (como IPs públicos no CGNAT) da melhor forma possível.
- Identificação de problemas: Receber alertas rápidos e precisos.
- Resolução rápida de falhas: Saber na hora se uma queda em massa foi por rompimento de fibra ou falta de energia no bairro, direcionando a equipe certa para o problema certo.
- Redução de custos: Analisar o tráfego para otimizar o uso de links caros.
- Conformidade com regulações: Gerar relatórios para a Anatel e guardar logs de conexão para responder a ofícios judiciais.
- Planejamento de expansão: Usar dados históricos para prever a necessidade de mais link ou equipamentos, sem achismos.
Principal lição: O monitoramento transforma a gestão de "apagar incêndios" para uma gestão baseada em dados. Ele permite não apenas reagir mais rápido aos problemas, mas também prevê-los, otimizar investimentos e garantir que a operação seja eficiente e lucrativa.
Allan Caldas: você quer a conveniência do pato ou o sucesso do lobo?
Com uma analogia poderosa, Allan Caldas chacoalhou a plateia ao falar sobre a compra de link dedicado em locais difíceis. Ele dividiu os provedores em dois tipos: o "Provedor Pato", que paga caro pela conveniência de receber o link na sua porta, e o "Provedor Lobo", que tem a coragem de construir seu próprio caminho (seja por fibra ou rádio) até uma cidade próxima ou a capital para buscar um link muito mais barato.
Allan demonstrou com planilhas e cálculos de retorno sobre o investimento (ROI) que, embora o caminho do "lobo" seja mais difícil e exija um investimento inicial, as vantagens são imensas:
- O custo do mega cai drasticamente, gerando uma economia mensal que paga a obra em pouco tempo.
- O provedor constrói um backbone próprio, que agrega um enorme valor patrimonial à empresa.
- Abre a possibilidade de atender novos clientes e cidades no meio do caminho.
- A solução de rompimentos se torna mais rápida, pois a rede é sua.
Principal lição: Parar de esperar soluções convenientes e começar a construir as próprias soluções estratégicas é o que diferencia um negócio que apenas sobrevive de um que domina o mercado. A economia e o valor gerados ao "buscar o link" superam em muito a comodidade de "recebê-lo".
Elgton Lucena: organize seus processos antes de sonhar com a automação
Elgton Lucena, da SOFIA, trouxe o tema da Inteligência Artificial para o centro da conversa, mas com um alerta crucial: "Organize, automatize e cresça", nessa ordem. Ele apontou que muitos provedores sonham em usar IA para vender mais, mas seus processos comerciais atuais são caóticos, com demora na resposta, falta de técnica e ausência de acompanhamento (follow-up).
Ele defendeu que, antes de qualquer tecnologia, é preciso ter um processo comercial bem definido, dividido em quatro etapas claras:
- Recepção: Rápida e direta ao ponto.
- Entendimento: Fazer as perguntas certas para entender a necessidade do cliente.
- Apresentação: Oferecer poucas e boas opções, de forma cirúrgúrgica.
- Fechamento: Coletar os dados e confirmar os detalhes.
Principal lição: A Inteligência Artificial é uma ferramenta para ampliar e escalar processos que já funcionam. Se você colocar uma IA para trabalhar em cima de um processo desorganizado, ela apenas vai automatizar e acelerar o caos. Organize a casa primeiro, defina seu método e só então use a tecnologia para levar sua operação a outro nível.
Leandro Quintão: no novo mercado, não há mais espaço para amadores
Fechando o dia, Leandro Quintão entregou uma mensagem direta e transformadora: o mercado mudou e não há mais espaço para amadorismo. Quem continuar pensando com a cabeça do passado, focado apenas em preço e sem uma estratégia clara, será engolido pela concorrência.
Usando exemplos como a Coca-Cola (que inovou com a Coca-Zero) e a Olympikus (que se reposicionou no mercado), ele defendeu que o provedor precisa evoluir para um "supermercado de serviços", oferecendo não apenas internet, mas um portfólio completo que agregue valor.
Para Leandro, o dono do provedor precisa sair do operacional e adotar uma "visão de drone", olhando o negócio de cima e focando nos quatro pilares do seu "mapa da estratégia":
- Vendas e Marketing
- Processos claros
- Pessoas e Liderança
- Lucro (com EBITDA acima de 50%)
Principal lição: O sucesso na telecom de hoje exige uma mentalidade de empresário, não de técnico. É preciso ter estratégia, cuidar dos números, desenvolver líderes e, acima de tudo, construir uma jornada de experiência para o cliente que justifique um preço justo e gere lucro sustentável.